terça-feira, 17 de maio de 2011

...

Amo como o amor ama.


Não sei razão pra amar-te mais que amar-te.

Que queres que te diga mais que te amo,

Se o que quero dizer-te é que te amo?

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Quando te falo, dói-me que respondas

Ao que te digo e não ao meu amor.

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Ah! não perguntes nada; antes me fala

De tal maneira, que, se eu fora surda,

Te ouvisse todo com o coração.



Se te vejo não sei quem sou: eu amo.

Se me faltas [...]

... Mas tu fazes, amor, por me faltares

Mesmo estando comigo, pois perguntas —

Quando é amar que deves. Se não amas,

Mostra-te indiferente, ou não me queiras,

Mas tu és como nunca ninguém foi,

Pois procuras o amor pra não amar,

E, se me buscas, é como se eu só fosse

Alguém pra te falar de quem tu amas.

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Quando te vi amei-te já muito antes:

Tornei a achar-te quando te encontrei.

Nasci pra ti antes de haver o mundo.

Não há cousa feliz ou hora alegre

Que eu tenha tido pela vida fora,

Que o não fosse porque te previa,

Porque dormias nela tu futuro.

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E eu soube-o só depois, quando te vi,

E tive para mim melhor sentido,

E o meu passado foi como uma 'strada

Iluminada pela frente, quando

O carro com lanternas vira a curva

Do caminho e já a noite é toda humana.

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Quando eu era pequena, sinto que eu

Amava-te já longe, mas de longe...

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Amor, diz qualquer cousa que eu te sinta!

— Compreendo-te tanto que não sinto,

Oh coração exterior ao meu!

Fatalidade, filha do destino

E das leis que há no fundo deste mundo!

Que és tu a mim que eu compreenda ao ponto

De o sentir...?



Fernando Pessoa

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